segunda-feira, 2 de novembro de 2015

CHARLES D'OR, UM OUTRO TROVADOR - "EU VIVO A LEGIÃO DE TODAS AS FORMAS"

Por Jefferson Rocha

O carinha da rua de cima que cismou cantar as canções de Renato Russo com alguns parceiros. Ganhou respeito, admiração dos fãs da Legião Urbana e, mesmo com um trabalho cover, imprime como poucos sua essência na obra de um dos maiores poetas do rock brasileiro.


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Charles entra no palco e canta Renato de uma forma própria.  


“Ei Charles!!! Por favor, posso tirar uma foto com você??!? Sou sua fã!!” disse  a garota com os olhos brilhando, logo após o show da L’age D’or no festival gastronômico Rota dos Sabores em Coronel Fabriciano, no último dia 12 de setembro. Estranho perceber que a garota o chamou pelo nome e disse que era fã dele, e não do Renato Russo. Com uma simplicidade ímpar, atendeu a fã e nos conduziu ao backstage, onde conversaríamos durante algumas horas, ainda refletindo a adrenalina pós show.

Charles Nogueira Silva adotou o codinome Charles D’or em alusão à sua banda, L’age D’or, que é o nome de uma canção do álbum V, do Legião Urbana. Começou sua carreira com músicas próprias mas, devido à dificuldade em mostrar o trabalho autoral, passou a cantar canções de sua banda preferida: a Legião Urbana.  “A banda começou como autoral, mas no Brasil, talento não é suficiente para o sucesso. Depois de um tempo, veio a ideia de montar a banda cover, já que todo mundo dizia que minha voz lembrava muito a do Renato e no mais, é minha banda preferida, juntei o útil ao agradável”, destaca com ar saudosista.

Charles é um homem simples. Trabalha na indústria metalúrgica e é apaixonado por futebol e pelo Cruzeiro, vai ao Mineirão, se reúne com amigos para ver jogos e paparica seu filho Gabriel, de 13 anos, que passou a ensaiar com ele nas horas vagas. Longe dos palcos, vive uma vida tranquila ao lado do filho e da esposa, Kênia.

Na música se mostra, além de um intérprete de primeira, um grande poeta. Tem várias composições e algumas até gravadas. Um exemplo é o hit Ana Marta, que foi tocada à exaustão na década de noventa na antiga Galáxia FM, de Cel. Fabriciano.

Mas é nas apresentações de sua banda, que ele mantém viva a paixão pelo ídolo. “Levar as canções da Legião e as letras do Renato até o coração das pessoas é incrível. Depois dos shows, sempre tem os feedbacks, como a mãe levar a filha de 10 anos no camarim pra agradecer o show e dizer que a filha nunca viu a Legião. Mas, eu sempre gosto de frisar: sou apenas um espelho refletindo o brilho da Legião Urbana. Esse é o meu trabalho”.
     
Durante a conversa, os gestos compõem uma sinfonia de opiniões emoldurada pela camisa cheia de flores azuis e o reflexo das luzes em seus óculos, ao melhor estilo Renato Russo. 

O Charles se emociona todas as vezes que cita seu ofício na arte: “Legião faz parte da minha vida. Não só no trabalho, eu vivo Legião Urbana de todas as formas. E, talvez por isso o trabalho seja tão prazeroso e bem feito”. Considerada uma das melhores bandas covers da Legião em Minas, A L’age D’or, capitaneada por ele, já consegue ler e reler a obra de Renato imprimindo suas próprias interações. “Aqui no Vale do Aço, já me reconhecem como artista, e não só como um rascunho. Sinto que as pessoas vão ouvir Legião, mas percebem a minha essência por trás de cada canção, e esse reconhecimento é gratificante”.

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A noite memorável. 
Quando ídolo e fã se juntaram para cantar canções de um outro ídolo.


A cereja do bolo aconteceu no ano passado, quando Charles dividiu o palco com o guitarrista do Legião, Dado Villa Lobos, em uma casa noturna da região, cantando duas canções e realizando um sonho. “Cantar com o Dado foi estourar a champanhe, tipo: tudo está consumado”.

Pelo andar da carruagem não tem nada consumado. A agenda não para de crescer e a L’age D’or está longe de parar sua caminhada.

Como diria o velho trovador solitário, Renato Russo:

“E nossa história, não estará pelo avesso... Temos muito ainda por fazer... O mundo começa agora, apenas começamos

segunda-feira, 9 de junho de 2014

07:15

 Por Jefferson Rocha

Com seu terno preto bem cortado, ele estava confortavelmente instalado na grande poltrona de sua biblioteca. Com a ponta do indicador e o médio, brincava com os próprios lábios, em movimentos quase infantis. Mas era de uma sutileza tão grande, que mal podia se dizer, que aquilo fazia parte de um jogo de excitação. Com a cabeça baixa, olhava para ela com um ar de que algo muito maldoso poderia ser feito nos próximos minutos.

Ela estava lá. Parada em frente à janela. Aquele fim de tarde em que o minuano cortava a alma com seu gelo impiedoso, não existia dentro daquele cômodo.  Ela estava lá, e parecia a própria imagem do paraíso. Seu corpo desenhava uma silhueta envolvente que fazia da luz da janela um holofote que previa o espetáculo a seguir. Ela estava lá... de costas para ele. Olhava sem enxergar o outono do outro lado do vidro. Mordia o lábio inferior só de pensar no que iria acontecer nas próximas horas.

Ele continuava atônito pela imagem que a janela produzia iluminando aquele corpo. A mão já não estava mais acariciando o próprio lábio. Sentado um pouco distante de seu desejo, ele esticou o braço direito e apanhou uma caixa de madeira muito bem trabalhada, que descansava na mesa ao lado da poltrona. Na outra mão, havia uma enorme taça com o resto de conhaque que, mesmo flambado, não estava mais tão quente.

Ela estava lá. Parada e sem esboçar nenhum movimento corporal. Um lindo vestido de tecido fino realçava suas curvas. Sabia como poucas ser a mulher certa. Os cabelos negros contrastavam com sua pela extremamente branca e linda. E mesmo com a sala de livros impregnada pelo cheiro do cravo e açúcar queimados, usado para flambar o conhaque, seu cheiro característico era mais forte que qualquer perfume. Lindo, suave e perfeito.

Ele, ainda sentado, apanhou a caixa, acariciou e abriu. Tirou lá de dentro um cubano Ramon Allones. Com o cortador, se livrou da ponta do charuto e furou a outra extremidade. Apanhou um Zippo de aço escovado e acendeu com movimentos circulares. Não tragou. Apagou depois de uma degustação superficial. Fez todo o ritual sem tirar os olhos dela.

Ela estava lá. Desta vez, olhou para trás por cima do ombro esquerdo. Encarou seu admirador com paixão. Seus olhos denunciavam a medida exata da excitação que tudo aquilo representava.
Ele levantou-se e caminhou em sua direção. Abraçou com delicadeza pela cintura e a puxou com mais força para perto de seu corpo. Estavam perto demais.

Dava para sentir o pulso de cada um dos dois na sala ao lado. A respiração descontrolada acelerava a cada instante.

- A mulher que você é hoje foi a que eu sempre quis. Disse quase sem emitir som.

- Você sempre foi o homem que eu quis, o tempo todo.

A resposta poderia ter sido acompanhada por um longo beijo. Mas ele largou a cintura dela e a puxou pelo braço. Sentou-se na poltrona e fez com que ela ajoelhasse na sua frente.

O jogo estava apenas começando.

Ela estava lá. Acariciava os joelhos do parceiro por cima da calça sem tirar os olhos dele. Ele a puxou com delicadeza pelo queixo e aproximou sua boca da dela. Perto demais e sem tocar-lhe. A respiração ofegante era algo ensurdecedor. Para os dois, aquele som era tão prazeroso quanto a obra máxima de Beethoven.

Ela estava lá, em seus braços, submissa, delicada, frágil, entregue. Pronta para ser a peça que ele desejasse no jogo que ele propunha a cada toque. Todo o comando era dele.

Quando finalmente a beijou, sentiu todo aquele corpo mudar de dimensão.

Ela estava lá. Completamente ouriçada. Havia se entregado há muito tempo.

Quando ele estava prestes a realizar as próximas etapas de seu jogo, um barulho ensurdecedor preencheu todo o cômodo. 

Ele despertou, olhou para o lado e não tinha ninguém. Mas era impossível que existisse alguém ali. A cama de solteiro de um adolescente de 16 anos não comportava.

Sem desligar o despertador que emitia o som que o acordou, pulou da cama, correu para o banheiro escovou os dentes e colocou o aparelho ortodôntico.

Olhou para o espelho, retirou o excesso de creme antiespinhas do rosto e correu para sua BMX. Enquanto ele pedalava freneticamente em direção ao primeiro dia da semana de provas do colégio, um sorriso no canto da boca metálica coloria aquela manhã de segunda-feira.

Ela estava lá, no seu imaginário. Sempre esteve e sempre vai continuar ali, até o dia do encontro.

De volta ao seu quarto, não era mais possível ouvir o barulho ensurdecedor que o havia acordado. No aparelho, apenas piscava o horário marcado na noite anterior: 07:15. 


quinta-feira, 29 de maio de 2014

METRÔMETRO

Por Jefferson Rocha


"Sim! É possível que personagens se tornem perfeitos devido à simples vontade de conhecê-los pelo nome. Ao utilizar o artifício de esconder a identidade dos pilares da trama, autores tentam criar uma armadilha capaz de sugar o leitor para dentro do seu texto. Poucos têm êxito, como na experiência de sucesso encontrada na sucessão de linhas a seguir..."  Fabio Jr, Jornalista.



A passividade era maior do que qualquer plano, meta e tentativa de produção. Tinha uma caneca com metade de café frio, e a outra metade com ar gelado. Na face, a frase: “Melhor tio do mundo”. Ele sabia que era um tio meia-boca, mas tinha sobrinhos maravilhosos.

Enquanto tentava escrever, ou simplesmente esquematizar o que pretendia escrever, coçou os olhos pelo menos umas quinhentas vezes. Coçava como quem coloca na conta daquele ritual o clareamento das ideias. Mas era inútil.

Faltavam apenas algumas horas para a escuridão da madrugada transformar a sexta-feira. No outono os dias são misteriosos. Quando a luz não dá as caras, fica impossível saber se realmente o dia será dourado ou cinza. Dependendo da região, nem o aplicativo no celular ajuda. À medida que a hora passava, seus dedos magros tremiam mais e mais.

Ele queria muito ter as ideias concatenadas para começar freneticamente sua labuta. Não conseguiu. A rotina desde as primeiras horas do último dia da semana era a mesma: escrevia algo que achava que valesse a pena, lia, relia e depois de selecionar todo o parágrafo, apertava a tecla “Del” como quem ofendesse o oficio.

Mas o que mais lhe deixava puto, era o fato de que facilmente em outras oportunidades ele se via bem mais competente. Escrevia como um louco. As ideias fluíam e a coisa acontecia com uma naturalidade tão ímpar, que seus textos eram extensões de sua anatomia. Acho que personalidade soaria melhor na frase anterior. Foda-se, o texto é meu.

Mas o dele era só dele. E sabia que estava guardado em algum lugar. A esperança do achado diminuía com o findar da escuridão da madrugada.

Mais um pouco de café.

- Puta que pariu. Tá gelado essa porra!

Pensou antes de ir à cozinha ligar a cafeteira e colocar o dobro de pó do que de costume.

Olhava atônito os primeiros raios da manhã esbofetearem sua cara. O tempo era marcado pelo compasso irritante do eletro produtor de café. Uma cadência que lembrava muito um metrômetro. Acendeu mais um cigarro. A coleção de guimbas era grande e nojenta.

Seu corpo de tão grande e magro parecia um pouco envergado à frente. Nariz grande e que brotavam poucos pelos das narinas. Nunca gostou de bigode e andava sempre com barba por fazer. Pelos brancos exageravam sua aparência. Tinha pelo menos três ou quatro anos a menos que a maioria achava.

Olhou para o grande relógio branco de parede. Sim, era branco, mas tinha números pretos e uma borda prateava que emoldurava aquele círculo do tempo angustiante que ele vivia.

Coçou o queixo e tomou um gole do novo café que acabara de tirar da cafeteira. Fez uma careta, não era lá grandes coisas o sabor. Comeu um biscoito que parecia estar molhado, de tão mole devido ao tempo que ficou dentro do pote de vidro.

Voltou para a mesa, ligou o PC, e ainda estava lá o desafio. Mas enganava-se quem achava que a obra estava em branco. Ele queria apenas tentar achar uma frase que sintetizasse a obra.

Seu romance estava muito próximo de ser concluído. Precisava da chave que fechasse da forma que ele sonhou. Esperava, e nada surgia durante toda a madrugada de sexta

Escreveu a obra em três meses e não conseguia a frase. O desfecho. Foi aí que veio a luz. Correu até a janela de seu apartamento. Abriu a persiana com cuidado para não ferir os olhos devido ao costumeiro escuro da madruga.

Como um relógio, ela passou para trabalhar. Ficou esperando o tempo passar e ela esperava o ônibus. Bem em frente ao seu apê. Quatro andares separavam ela e ele.

Voltou ao PC. Misturou um pouco de Jack Daniel’s no café. Tomou um belo gole e abriu o arquivo de seu livro pela primeira vez desde a tarde de quinta. Escreveu alguns caracteres para terminar seu romance sobre um crime passional.

“A sala de interrogatório tinha apenas o acusado que tentava explicar o que o levou a fazer aquilo. O investigador ligou o gravador e o pobre levantou a cabeça, olhando com certa melancolia para o seu interrogador.

Diga senhor, por que a matou?”

Foi aí que escreveu a última frase. Aquela que procurou por toda a madrugada. Após ouvir Animals do Floyd e pelo menos uns três LPs de festivais da canção. Ele achou a sua frase quando observou o cotidiano dela que continuava no ponto de ônibus.

A companhia tocou e ele foi abrir. Era ela.

- Pensei que não iria subir.

- Sabe que sempre vou subir... Sempre.

-Fiz café. Tá uma bosta.

- Nunca foi bom, mas adoro o seu café.

Os dois foram para a cozinha, se beijaram e ele a carregou nos braços para o quarto. Fecharam a porta.

Na sala, sozinho, desprezado e finalizado, um texto de aproximadamente 300 páginas estava aberto no PC. Mas o cursor do Word piscava justamente no fim do parágrafo a seguir:

“Olha doutor... foi quando ela saiu de dentro do quarto com aquele vestido vermelho que contrastava com o loiro dourado de seus cabelos. Aquele maldito vestido que a deixava maldosa e estupidamente... linda."

sábado, 8 de março de 2014

MORDAÇA

Por Jefferson Rocha


Nesta semana um microfone do Vale do Aço foi desligado à bala! O crime que chocou a sociedade aqui no Leste vai muito além do crime em si. Muito além da estatística, do ocorrido, do fato, do crime, da notícia. Vai além e muito além de tudo isso. 

O que cerca todo o acontecimento é muito sério. Preocupa muito todos os arredores do brutal assassinato do colega jornalista e radialista Rodrigo Neto. A pistolagem chegou ao Leste de Minas da maneira mais covarde que se pode imaginar. Chegou em forma de intimidação. Chegou para dizer: “Cuidado! Pois disposição para calar-vos temos de sobra!”

Quando criança, lembro-me claramente da pistolagem em um Nordeste sem lei. Morando no sertão alagoano, vi muitos líderes tombarem porque defendiam os “menos favorecidos”... Padres, pastores, sindicalistas, políticos. Se de algum modo o formador de opinião incomodava, ele era silenciado à bala. Lembro de vereadores que andavam de bicicletas e não demoravam a cair. Os das grandes picapes tinham mandatos duradouros. Eu era um menino e não entendia o porquê.

O que me espanta é que tudo isso que conheci, achei que tinha ficado no passado. Enganei-me de novo. O tipo de crime ocorrido com alguém tão próximo fez com que essa realidade voltasse como um soco no estômago de toda a classe, ou pior, de toda a sociedade. Pistolagem é brutal e arcaica. É tão grave que a sociedade não pode esperar para tomar uma atitude.

É hora dos gestores da comunicação do Vale do Aço sentarem e conversarem entre eles. Caminhadas com camisetas brancas não vai resolver, protestos silenciosos não vão resolver, atos simbólicos contra a violência não vão adiantar. É hora da ação direta. A sociedade não pode ficar à mercê desse tipo de violência brutal. Brutal pela violência em si e brutal por reprimir o direito de se expressar.

Tudo é muito sério! Essa banalização da violência é o pior inimigo nessa guerra que estamos perdendo. O crime que não choca mais, que se tornou comum. Estamos perdendo nossa capacidade de indignação. E quando essa indignação acabar de vez... acaba a guerra. E a sociedade é derrotada.

O que proponho não é transformar a morte de um colega em exemplo de martírio, mas que pelo menos esse acontecimento trágico, que dói tanto pela proximidade, não seja em vão.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

FLASH BACK AO SOM DE A-HA

Por Jefferson Rocha

Enquanto escrevia essas linhas, o som ao vivo do A-HA estava muito alto no meu fone. Uma dessas apresentações do Live 8. Uma trilha sonora que ecoava não apenas na minha cabeça, mas também em minhas lembranças.

É incrível como nada é tão oitentista quanto o vocal de Morten Harket. Talvez, a voz da dublagem do Daniel Larusso, no clássico Karate Kid – A hora da verdade. Falando nisso, outro dia vi a foto de Ralph Macchio e parece que o cara não envelhece, mesmo sabendo que ele é de 62, acho que tem os mesmos 17 anos como no filme.



Minhas lembranças, alimentada pelos acordes de Magne Furuholmen e sua turma, foram parar nos meus colégios, nos amores adolescentes, nos amigos que se foram e em vertigens fabricadas pela minha imaginação.

Lembrei do velho colete jeans, meio cafona, que cobria o uniforme branco da escola estadual largada aos frangalhos pelo governo da época. Interessante como achava que o tal colete cafona deixava o visual de aluno pobre, menos careta. Poderia até ficar “irado”, mas continuava feio pra cacete.

Lembrei de um irmão que a vida havia enviado pra mim e que perdi cedo demais por conta de um acidente automobilístico. Lembrei também das festas e dos inúmeros vinis que carregávamos embaixo do braço, às altas horas para alimentar a pegada com nossas canções... Sim, sim, tínhamos muito A-HA.

“I'll be hunting high and low… High… There's no end to the lengths… I'll go to hunting high and low…High… There's no end to lengths I'll go”

Lembrei dos amores, aqueles que morreríamos por eles e que depois descobríamos que não tomaríamos nem uma injeção por eles.

Na época,o acnase era o nosso creme de barbear e o banheiro não era ainda a igreja de todos os bêbados. Essa inocência era de propósito, o desconhecido era uma sensação de medo e prazer.

Gosto de recordar, gosto de sentir saudade. Sentimos saudade e ternura das coisas boas que vivemos. Assim lembro até das dificuldades. Tudo é aprendizado.

“ Cry wolf…Time to worry… Cry wolf… Time to worry now”

Essa aí me fez lembrar as boas gargalhadas e a temperatura alta dos terraços que ocupávamos nos sábados à noite e nas tardes de domingo.

Madrugada de boas recordações...

Basta termos boas histórias, e todos nós temos. Não recordei por acaso. Recordei porque valorizo minha história. Valorize a sua. Não existe essa de que “Minha vida não é interessante, ou não vale a pena”. Com uma boa trilha sonora, você pode lembrar-se de grandes passagens.

“Take on me… Take me on…I'll be gone… In a day or two”

Muito obrigado pelo festival, Senhor Bob Geldof!  
  


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

SEGUNDA APRESENTAÇÃO DO SHOW: “O SOM DA TERRA” – A preparação.

Por Jefferson Rocha

Então é assim galera!

Semana de definições para mais uma apresentação do Viola no Trilho! O som da Terra vai ganhando novos rumos, novos ares, novos casulos, mas não muda sua essência. A paixão pelo que se cria ou “copia”, continua intensa.


Foto de celular é ruim pra caramba! Mas aqui o que vale é o recorte do ensaio

Cópia é uma palavra meio violenta! Digamos que sofrer influências não é propriamente copiar, e sim uma espécie de homenagear quem você curte e respeita.  Soltar no salão sua visão sobre obras consolidadas.

A poesia basta. Na sua essência, ela já é completa. Não precisa de mais nada para modificá-la. Harmoniosamente falando, mantemos a letra, modificamos a canção. Na verdade, isso não passa de uma maneira de emoldurar um quadro com outras madeiras. Sai o compensado que se desmancha e entra o carvalho. Esses são os artesões: os caras que estavam por trás dos caras!


Aventura! Breve saberão do que se trata

Há espaço para o nosso. O nosso é tão importante quanto. Música tem suas particularidades, mesmo não sendo nossas, passam a ser de uma forma ou de outra. Dependendo, de uma maneira ou de outra, nos apropriamos das obras a cada interpretação.

O importante é isso... ainda bem.

Para essa apresentação, “O Som da Terra” ganha novos set’s. Escolhemos canções que se encaixam no espetáculo, como peças esquecidas na gaveta de um velho Lego. Em um inverno rigoroso, nossos ensaios são acalorados. Acho que frio aflorou a criatividade da galera, e conseguimos criar um arranjo fantástico para uma música velhinha, com cara de nova.

Como “no inverno fica tarde mais cedo”, aprendemos com a estação que a hora tem que ser corrida, até ela mesma se completar.

“Aventura”, a nova obra de arte que entra no show: música que pegou a galera pelo peito e fez com que todos se apaixonassem. Linda, completa, e mesmo assim ganhou a nossa cara também.
Vem aí o geral: dia de encaixar tudo que estava solto. A paz é destaque no reino do Viola. Espero que gostem... Tá redondinho.

Combinado então. O “Viola no Trilho” volta na próxima sexta, na Praça da Estação! Vocês continuam sendo nossos melhores convidados! 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PENSO... LOGO DEIXO DE ESCUTAR...

Escrevi esse texto para o jornal o informante de Timóteo! Publicado também no blog www.palpitandoocotidiano.com do jornalista e amigo Rodolfo Rodrigues.  




Preciso de um sucesso efêmero... É urgente. Preciso de uma porção de palavras rítmicas, que entre na cabeça feito o cheiro impregnante de algo perecível que passou da data... quase lixo. Preciso de algo tão efêmero, que me impeça de ter compromisso com isso por muito tempo. Quero apenas ganhar rios de dinheiro, e depois me livro disso.

Esse aí deve ser o processo de escolha de muitos produtores musicais para a contratação dessas coisas que chamam de música hoje em dia. Refrão fácil e nada a passar. Concordo que música e outras formas de arte têm também o papel do entretenimento, mas não quer dizer que não tenha o compromisso com algo além disso.

A indústria fonográfica no Brasil, com advento da internet, se deparou com uma crise criada por ela mesma. Primeiro, a música no Brasil é um produto caro. O CD físico de um grande artista torna-se inviável à grande massa. Um produto cultural de massa seria a salvação da lavoura para alavancar o rombo causado pelos downloads?

Não vou explanar sobre um universo que pouco conheço, prefiro contestar a qualidade do que se produz. Aí, não precisa ser expert para saber que o lixo cuspido no mercado pelas grandes corporações através de seus jabás infernais, não tem muito a ver com arte. Não que cultura seja uma exclusividade do lirismo, do sofisticado. Existem vários tipos de cultura,mas, o que temos hoje em dia não é nem cultura popular. Até no brega, existe qualidade quando se tem algum compromisso ao fazer.

Nos sons regionais de subúrbios e guetos, mesmo que a qualidade técnica não seja das melhores, o recado é passado. O respeito pelo que se acredita é evidente. Posso não ser fã, por exemplo, do Calipso, mas reconheço seu papel na cultura paraense. Tenho minhas objeções quanto ao Funk Carioca, mas é uma manifestação suburbana legítima (com algumas ressalvas).

Agora, dizer que tchu tcha tcha, Fiorinos, Dodge RAM, Tche tche, xa xa e outras coisas incompreensíveis são manifestações de algo, é forçar a barra demais na indústria jabazeira. Meu whisky não precisa de água de coco.

A música não precisa ser erudita o tempo todo, tampouco Luan Santânica. Aliás, esse aí não demora a ser esquecido. Nesse meio, só os bons sobrevivem; ou melhor se eternizam: vide Chitãozinho e Chororó, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, dentre outros.

Meteoro de verdade é aquele que mesmo depois que sua carreira é interrompida, vende sua arte até hoje. É aquele que sem a mídia fungando no cangote, lota todos seus shows, ou então, aquele que depois de muitos anos, tem sua música transformada em filme, por exemplo.


Neste Faroeste Caboclo da indústria musical não sobrevive o fenômeno midiático. Só fica de pé mesmo, quem tem algo a dizer, além de um refrão fácil